Estamos às voltas com uma tal enxurrada de bizarrices compartilhadas nas redes sociais que sinto vergonha de acompanhar os posts. Sem pensamento crítico, marcas, produtos, empresas e pessoas são enxovalhados de tal forma e com argumentos tão descabidos e desproporcionais que nos cabe perguntar: onde estamos e para onde vamos com tudo isso?
Prevenção é o nome do jogo. Gestão eficiente da comunicação organizacional alçando-a à posição de estratégica para a organização. Gestão eficiente de riscos e de situações de crise, responsabilidade, transparência e ética completam o quadro para atuar em tempos de mídias sociais e digitais. Parece pouco? Na verdade é essencial na sociedade vigiada em que vivemos: insegurança da informação, fakenews, informação em tempo real, o vazamento e os limites da privacidade pessoal e organizacional, as mídias sociais e a ameaça de hackers e invasões. Além da flutuante sapiência dos indivíduos pouco informados mas que se reconhecem como sumidades nos diversos assuntos.
Tudo isso representa um novo olhar para a comunicação organizacional que não pode prescindir de atuação intensa em mídias sociais, deixando de ser uma questão opcional para tornar-se uma obrigatoriedade a gestão desta presença nas mídias sociais e digitais. O monitoramento das mídias sociais é de fundamental importância como ferramenta e antecipação de crises de imagem e relacionamento com os públicos de interesse. Duas questões perseguem o cotidiano das organizações: se as situações de crise podem ser evitadas através do uso estratégico das mídias sociais e digitais e qual o papel destas na identificação e prevenção de situações críticas.
A estratégia de presença digital deve estar apoiada em dois estágios de desenvolvimento: posicionamento estratégico organizacional e a constituição de espaços-informação e suas formas organizativas:
Presença Digital das Organizações
Em um primeiro momento, toda a comunicação organizacional, seja ela digital ou não, deve ter como base a ética empresarial, responsabilidade socioambiental e a sustentabilidade, não como discurso, mas como ações concretas e efetivas ligadas ao cotidiano operacional da organização. A partir daí, a comunicação organizacional depende de uma cultura onde a comunicação seja um elemento importante e estratégico, ligada às estratégias organizacionais, e tendo importância efetiva para as lideranças, incluindo a cultura de acesso a recursos digitais e seu uso efetivo onde inovação, tecnologia, conexão e convergência façam parte do DNA da organização.
O empenho organizacional em criar e desenvolver “espaços-informação” como uma técnica de comunicação que desenha a disposição e organização das informações de forma ordenada, permitindo que o usuário percorra um conjunto ou sequência específica de caminhos para consumir uma determinada informação corporativa que favorece o entendimento. Estes espaço-informação, na prática, referem-se:
- Ao conteúdo em si – dados e informações;
- Sua estrutura de acesso – navegação em ambiente digital – mas também design e arquitetura, além de outras formas de acesso;
- Uso da hipermídia, conferindo amplitude e profundidade ao conteúdo, criando contextos e correlações – mas também sob uma perspectiva transmidiática e de integração entre diferentes plataformas on e off.
- Definição das polifonias narrativas – formas e estilos de comunicação;
- Convite ao diálogo e à troca – por meio de recursos de interatividade mas também através de diversos canais;
Com foco na presença digital, cabe ressaltar que os limites são tênues, portanto, a comunicação organizacional estratégica deve desenvolver uma visão multiplataforma, trasmídia e integrada dos seus esforços de comunicação como forma de alinhamento e concretização de uma comunicação verdadeiramente abrangente e estratégica, respeitando as especificidades de ferramentas e públicos.
Além disso, as organizações devem tomar para si a responsabilidade sobre o que é divulgado e compartilhado na rede e, na medida do possível, exercer efetivamente o seu papel em fornecer informação fidedigna e de esclarecimento acerca das bizarrices que temos, infelizmente, tido a oportunidade de ler e ouvir.
[i]Espaço-informação: termo utilizado por Saad (2003)
Artigo baseado em trechos do livro de Rocha, Marcos. Trevisan, Nanci M. Comunicação Empresarial. São Paulo: Atlas, 2018.
Forni, João José. Gestão de crises e comunicação: o que gestores e profissionais de comunicação precisam saber para enfrentar crises corporativas. São Paulo: Atlas, 2017.
Mortari, Elisangela C.M. Santos, Suzana F. dos. Monitoramento de redes sociais digitais como estratégia organizacional in Revista Brasileira de Ciências da Comunicação. v.39, n.1, janeiro/abril 2016. São Paulo: Intercom, 2016. p. 91-109
Saad, Beth. Estratégias para a mídia digital: internet, informação e comunicação. São Paulo: Senac, 2003.