É um cenário desafiador, com certeza, que já se arrasta por, no mínimo, longos 30 anos, em discussões cada vez mais acaloradas e aceleradas pelo avanço das tecnologias digitais, crescimento das plataformas de relacionamento e mudança no comportamento do consumidor.
Mas, sejamos objetivos, qual o tamanho do abismo que separa o mercado colocando em lados opostos o que deveria estar em paralelo?
Os anunciantes sonham com uma agência que os compreenda mais do que compreendem a si mesmos. Adorariam trabalhar com uma agência que também compreendesse o mercado consumidor e fosse capaz de integrar as atividades de comunicação de forma relevante, criativa e eficaz e, é claro, com custos otimizados e alto retorno sobre o investimento.
As agências adorariam encontrar um anunciante que compreendesse a si mesmo. Que fosse capaz de selecionar agências sem o embate de uma concorrência desleal, longe de qualquer apropriação de ideias alheias, que custeasse esta concorrência com honestidade e a julgasse com objetividade. Talvez que pudesse, também, estabelecer um relacionamento transparente e sem falsas expectativas.
Viver no mundo atual exige a arte de fazer as perguntas certas sem ter certeza de que a resposta virá. Incertezas, mudanças, inseguranças, questionamentos e muitos…muitos enigmas, complexidades e dificuldades.
Mas tomo aqui a liberdade de buscar em Edgar Morin uma luz. Em seu marcante livro chamado “Os sete saberes necessários à educação do futuro” (cuja leitura eu recomendo), escrito em 1999, a pedido da Unesco[i], Morin nos diz:
“Os obstáculos intrínsecos às duas compreensões são enormes, são, não somente a indiferença, mas também o egocentrismo, o etnocentrismo, o sociocentrismo, que têm como traço comum se situarem no centro do mundo e considerar como secundário, insignificante ou hostil tudo o que é estranho e distante”.
Embora o trecho esteja aqui colocado em outro contexto que não o original, relacionado à educação do futuro, tomamos aqui a perspectiva de que, para haver compreensão, é preciso educar-se para a compreensão.
Ouso dizer que, talvez, apenas talvez, as partes deveriam olhar menos para seus próprios umbigos e mais para o objetivo que as une: construção de marca e relacionamento com um conjunto de consumidores, eficácia e eficiência na comunicação e alcançar os objetivos organizacionais, trazendo perenidade à marca, produto e à organização como um todo. São objetivos em comum que beneficiam a ambos.
Você dirá que é uma visão excessivamente simplista. Como num casamento, existem dificuldades de relacionamento, mas o que mantém as partes juntas é terem o mesmo objetivo a despeito do que acontece no dia-a-dia.
[i] Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2001.